sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Trienal de Luanda é montra de moda

Estilistas levam criações todas as semanas ao palco do Cine Nacional

Fotografia: Paulino Damião

O director da agência de moda Hot Models afirmou, ontem, em Luanda, ao Jornal de Angola, que a Trienal de Luanda é a maior montra de moda no país.

Marcos Pereira da Gama justificou a opinião com o facto de os estilistas angolanos, durante os três meses da Trienal, que começou no dia 12, poderem apresentar as criações uma vez por semana.

Depois de Indical Barbosa abrir o espaço da moda, a Hot Models convidou os estilistas Celma Ribeiro, Joaquina Pires e Edson Cláudio, cujos trabalhos apresentados, na terça-feira, lotou o Cine Nacional.

A Hot Models, referiu, apresentou criações com motivos africanos, que “ilustram os diferentes povos do continente”.
“Privilegiamos a forma de vestir das zonas Norte, Leste e Sul de Angola, designadamente dos povos bakongo, cokwe e hereros”, disse.

Entre os 30 manequins que desfilaram, seis eram estreantes – Tânia Vunge, Jéssica Mário, Genuína Pereira, David, Euclides e Farias – e fizeram-no ao lado dos mais experientes Mauro Ananias, Óscar Cambundo, Pedro Alexandre, Nádia Kiala, Laura Simão e Ivone Tavares.

Sobre a participação dos estilistas, frisou que o evento é uma forma de legitimar as criações dos criadores angolanos e que Trienal de Luanda é “a maior montra de moda em Angola”.O facto de, todas as terças-feiras, até Dezembro, se abrir um espaço dedicado à moda, espelha bem a importância do evento para os estilistas angolanos.

“Durante três meses vão realizar-se 28 desfiles, algo que nunca se registou no nosso país”, afirmou, lembrando que a Trienal dá grande abertura à moda, o que dificilmente tem acontecido noutros projectos artísticos e culturais.

O promotor, no mercado há mais de cinco anos, revelou que o desfile teve a designação de “Juventude Fashion” porque se trataram de criações relacionadas com o quotidiano luandese, particularmente sobre as preferências dos jovens.

Francisco Pedro

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"O Meio Ambiente" e "A Raiva" sobem ao palco do Cine Nacional

Grupo de dança “Os Peritos” durante uma actuação no palco da Trienal de Luanda

Fotografia: Paulino Damião

Depois do Cine Teatro Nacional ter registado, ontem, mais uma performance do Movimento Lev’Arte, que actuou com a declamação de poesia pela segunda vez na II Trienal de Luanda, o palco acolhe hoje, a partir das 16h00, a peça de teatro “O Meio Ambiente”, do grupo Nzila Ya Nzailo.

Trata-se de uma peça infantil que retrata a história de um menino que não quer tomar banho. A peça foi estreada no passado dia 16, no mesmo espaço, e segundo o actor Raul do Rosário, que faz parte do grupo de encenação, é uma obra que os pais e encarregados de educação devem dar a oportunidade das crianças apreciarem.

Ainda no palco do Nacional, o grupo Enigma Teatro vai apresentar hoje, às 21 horas, a peça “A Raiva”, que lhes permitiu arrebatar a sétima edição do Prémio Cidade de Luanda, na modalidade de Teatro.

Com certa ironia, “A Raiva” retrata uma família luandense que depois de lambida por um morcego começa a se transformar em animais raivosos. É uma sátira que questiona situações do quotidiano luandense.

Música é o que reserva, amanhã e sábado, a Trienal, quando subirem ao palco do Cine Nacional o percussionista Dalú, a banda Contraste e o poeta e músico Lukeny Fortunato, acompanhado pelo cantor Kool Klever. A ante-estreia do drama de Orlando Fortunato, “Batepá”, está prevista para domingo, às 18h30, numa exibição realizada com apoio do Instituto Angolano de Cinema, Audiovisuais e Multimédia (IACAM).

O filme alemão “O Desespero de Verónica Voss”, também no género drama, de R. W. Fassbinder, vai encerrar, às 21h00, o roteiro da semana cultural da II Trienal de Luanda, aberta no dia 12 deste mês.

Tertúlias literárias

A primeira tertúlia literária da II Trienal de Luanda aconteceu, na segunda-feira, com um encontro entre os poetas João Maimona e Lopito Feijó, que foi moderado pelo ensaísta, crítico e escritor Luís Kandjimbo.

A actividade durou cerca de três horas e constou do ciclo de conferências da II Trienal de Luanda, que estão programadas todas as segundas-feiras, no Cine Nacional.

A participação activa do público, no decorrer da tertúlia, levou Luís Kandjimbo a concluir que existem jovens interessados em obras poéticas de autores angolanos. Porém, aconselhou-os a terem espírito crítico, para amanhã serem bons escritores. “Para um dia se ser um bom autor primeiro tem de se ser um bom leitor”, realçou.

Francisco Pedro

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Declamção de poesia na Trienal de Luanda

Poetas do Movimento Lev'Arte ganharam um novo espaço para divulgação da poesia

Fotografia: Paulino Damião

A nova geração de poetas angolanos, pertencentes ao Movimento Lev’Arte, tem um novo espaço para a divulgação das suas criações literárias ao participarem no programa “Chuva de Poesia”, aberto na quarta-feira, no Cine Teatro Nacional, em Luanda.

Kardo Bestilo, do Lev’Arte, disse que o programa faz parte da II Trienal de Luanda, e tem periodicidade semanal.

O “Chuva de Poesia”, realizado na noite de quarta-feira, teve muita adesão do público, maioritariamente jovem.
Além da declamação, os poetas recorreram às artes cénicas para representarem sentimentos narrados nas poesias “Tua Vida é Minha”, “Lemba, Lembras-te” e “Choro de Homem”, do livro “Contro Verso”.
Num período de aproximadamente duas horas, os declamadores Pedro Belgio, Milton Fernandes, Tata Yetu, Ângelo Reis, Kapuete e Kardo Bestilo, preencheram o “Chuva de Poesia”, que volta ao mesmo espaço no dia 22, para retratar aspectos históricos de 1975 a 2010.

Kardo Bestilo encerrou o programa com a dramatização de “Tua Vida é Minha”. Com este poema, ele representou a personagem Ministro, que contracenou com a Miss Mijona.
“Tua banga vai acabar se meu coração arrombar, /Teu Jeep vai secar, /Teu celular vai apagar, /Tua bunda já não vai viajar, /Tua família já não vai te ligar. /Ainda tens a certeza que queres me deixar?”, dizia o Ministro.

Porém, Kardo Bestilo disse queentre os objectivos do Movimento Lev’Arte é o de humanizar através da arte.
O grupo foi criado em Julho de 2006, no bairro Vila Alice, em Luanda, e conta com uma publicação intitulada “Palavras”, editado pela EuroPress, em 2009.

As actividades da II Trienal de Luanda continuam, hoje à noite, com dança, do Centre Chorégraphique National de Caen, de França. Música angolana, com Carlitos Vieira Dias e Nástio Mosquito, está prevista para amanhã, e no domingo uma sessão de cinema com “Na Cidade Vazia”, de Maria João Ganga.

Francisco Pedro | - 17 de Setembro, 2010

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Encontro De Artes E Cultura Junta Angola E Brasil

A Casa de Cultura Brasil-Angola e o Movimento de Arte Lev Arte Angola promovem, no dia 22 deste mês, em Luanda, um encontro de arte e cultura entre os dois países, na qual envolverá poesia, música, humor e outros entretenimentos.


Segundo uma nota de imprensa da Embaixada brasileira a que a Angop teve acesso, o encontro inclui homenagem aos poetas brasileiros Augusto dos Anjos, Castro Alves e os contemporâneos Vinicius de Morais e Carlos Drumond de Andrade, além dos poetas angolanos Agostinho Neto, Alda Lara e Kardo Bestilo.

Durante o certame, a ter lugar no pátio da Casa de Cultura, será debatido “um dos géneros musicais brasileiros mais conhecidos no mundo, que completou 50 anos de existência no ano passado, Bossa Nova”.

Fruto da assinatura de memorando entre a Casa Cultura Brasil-Angola e o Movimento Angola de Arte Lev Arte Angola, “a iniciativa servirá para contribuir na difusão cultural brasileira entre os jovens angolanos e na consolidação da Casa de Cultura Brasil-Angola”, lê-se na nota.

Segundo o coordenador de evento do Lev Arte Angola, Milton Fernandes, “é louvável esse entendimento para a cooperação cultural, na medida em que se marca o início de uma proveitosa parceria”.


Fonte:AngolaPress
19-08-2009

Leves "PALAVRAS"

O restaurante Miami Beach, na Ilha de Luanda, foi o palco escolhido pelo Movimento Lev’Arte Angola para a apresentação do livro de poesia, Palavras.

O mesmo foi apresentado pelo professor e escritor Eduardo Bonavena, acompanhado do prefaciador Hugo Fuena e alguns autores presentes no livro. Com destaque para Nguimba Ngola e Júlia Talaia, vencedora do prémio Sonangol-Revelação 2008.

Antes da apresentação do livro os poetas do movimento brindaram os presentes com declamações de poesia, a actuação do quarteto poético e houve também trova com a cantora Nádia Pimentel 
e Wilmar Tembo.

Um dos objectivos do movimento Lev’Arte é incentivar o gosto pela leitura. Estiveram presentes no acto de lançamento mais de 500 pessoas. O livro ControVerso, de Kardo Bestilo também esteve em destaque nesta noite dedicada às letras.


Jandira Miranda
9 de Setembro de 2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Na Semana do Herói Nacional o Lev´Arte Declama POESIA...



Nos dias 10, 12, 17 e 19 de Setembro de 2010
Local: Belas Shopping
Hora: 15h00 as 18h00
Entrada: Livre
Linha da Arte: 927 00 17 80 e 927 05 15 50

Poesia ao vivo

Todas as quintas-feiras, o grupo Lev’Arte reúne mais de 200 pessoas para ouvir e declamar poesia. Objectivo: permitir aos jovens o acesso ao mundo da arte e da literatura.


A Lev’Arte é um movimento cultural que tem como objectivo levar aos mais novos o gosto pela leitura. As sessões decorrem todas as quintas-feiras na Chá de Caxinde em Luanda. Apesar de haver um programa pré-definido, o público pode inscrever-se para declamar um texto ou uma poesia, seja de um autor consagrado ou da sua criação. A iniciativa serve, por isso, também, para promover novos autores, assumindo--se como um espaço de divulgação daqueles que aspiram a tornar-se escritores e poetas.


O maior objectivo deste movimento cultural é trazer mais pessoas para os livros, em particular os jovens, e aumentar o seu conhecimento cultural. As entradas são livres. Mas a Lev’arte não se esgota nestas sessões. Promove iniciativas noutros locais e assume-se como um dos mais importantes veículos de divulgação da programação cultural do país.


Na última quinta-feira, a Lev’Arte iniciou uma campanha de recolha de materiais para crianças (roupa, brinquedos, livros, canetas, etc.), pedindo a quem vem às suas sessões de poesia que traga nem que seja uma “coisinha”. Esta campanha vai durar até Julho. Depois todos os materiais recolhidos serão entregues a instituições de apoio à criança. Nas sessões de poesia está a ser dado um espaço mais pequenos para recitar, dançar ou apresentar uma pequena peço de teatro.


Para este ano, os objectivos da Lev’arte são ambiciosos, querem juntar 15 mil pessoas nas sessões, sendo que vão alternar as suas apresentações entre o Cine Teatro (Chá de Caxinde) e o Instituto Camões. Vão também promover encontros em locais públicos e apoiar outros nas áreas mais diversas (música, teatro, artes plásticas, etc.). Decididamente eles levam a arte mais longe.

João Armando

Noites poéticas

Criar o gosto pela literatura e elevar a poesia 
é o mote da Lev’arte

Há três anos que a Lev’arte trabalha para tornar a poesia cada vez mais próxima dos ouvintes e dos leitores. Numa das últimas iniciativas, a Lev’Arte e o Instituto Camões, realizaram no Centro Cultural Português, um evento de Poesia ao vivo com o tema “A Voz da Plateia & Poesia”.

O auditório Pepetela encheu-se de jovens cheios de vontade de fazer e ouvir poesia. O público também fez ouvir-se, quer no palco, quer na plateia e partilhou com o grupo o seu trabalho. O escritor Nguimba Ngola, autor da obra Mátria, foi convidado especial na iniciativa. Durante o serão houve ainda tempo para a música, com a subida ao palco de muitos amigos da Lev’arte.

Para festejar o seu terceiro aniversário, a Lev’arte pretende continuar o ciclo de iniciativas, sempre com o objectivo maior de incentivar a leitura, a criatividade artística o gosto pela literatura e criar condições favoráveis à revelação de novos poetas e obras poéticas.

Joana Simões Piedade

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Semana da Poesia no Belas


Neste mês de Agosto, o Belas Shopping preparou mais uma surpresa para si: a Semana da Poesia no Belas. De 25 a 29/08, o Lev´Arte, um dos mais renomados grupos de Poesia de Angola, vai circular pelo shopping, no horário das 20h às 21h, a declamar os poemas de seu mais recente livro.
Enquanto faz as suas compras, você aproveita para assistir às apresentações cheias de sentimento deste talentoso grupo.
Não deixe de vir. Além das melhores compras, o melhor da cultura angolana também espera por si.



Fonte: www.belasshopping.com

Kardo Bestilo

Co-fundador do LevArte

O ENGENHEIRO POETA

Kardo Bestilo, 33 anos, é um dos fundadores do Movimento Lev’Arte, movimento literário que utiliza a poesia como veículo para uma sociedade mais justa e humana. Autor do livro Controverso, Kardo é engenheiro na área das telecomunicações e poeta.


O livro Controverso da autoria de Kardo Bestilo foi lançado a 31 de Janeiro de 2007, em Luanda. Nesse dia, nascia um novo escritor angolano e simultaneamente o primeiro escritor do movimento Lev’Arte. O projecto, que conta agora com três anos, é um movimento poético que procura oferecer momentos de lazer, declamação de poemas e reflexão em Luanda. Hoje em dia, é também um dos mais fortes agentes culturais da cidade, procurando estimular a leitura, a escrita, mas também a solidariedade e humanização da sociedade. Kardo Bestilo conta-nos a história de um movimento de jovens que se bate pela arte. Esta é uma viagem ao mundo levarteano.


O Lev’Arte fez este mês de Julho três anos. Vamos recuar no tempo. Como surgiu o projecto?

O projecto começou em 2006 com a ideia base de “levar a arte até si”. Seis pessoas, com uma média de idades de 27 anos e alguma experiência ao nível associativo nas escolas, identificou a necessidade de criar um projecto que conseguisse “levar a arte” mais próximo das pessoas. Estava nos nossos horizontes a procura de novos talentos, o interesse em congregar valores jovens que se iniciavam nas artes literárias, e incentivar o gosto e interesse pela leitura. Assim nasceu o Lev’Arte, um projecto sem fins lucrativos mas com muito consumo de energia humana. A sua origem está na necessidade de contribuir para a humanização da sociedade e na ideia de fazê-lo através da arte, tornando-nos nesse processo pessoas melhores. A 20 de Julho de 2006 iniciámos no Kings Club os nossos eventos. O grupo foi crescendo e, neste momento, temos 33 membros inscritos e cerca de 50 amigos que acompanham as iniciativas.


Actualmente qual é a vossa missão?

Incentivar o gosto pela leitura e a escrita, cooperar com outras associações, trabalhar com escolas para incentivar esse gosto, levar a poesia mais próximo dos leitores, contribuir para o crescimento dos poetas, realizar palestras em escolas. Também fazemos trabalhos de solidariedade em lares, por exemplo. Em Janeiro deste ano, começou o projecto “Faça uma criança feliz”. Neste evento, as crianças declamam, cantam, dançam, fazem teatro e tem também a componente de levarem um donativo para outra criança. É necessário preparar as pessoas para a solidariedade, e começar este caminho pelos mais novos.


A sociedade angolana é solidária?

Penso que como sociedade temos as folhas da solidariedade secas. Nas ruas passamos por seres humanos caídos nos passeios, pedintes, e não ligamos. Fica a fazer parte do nosso mobiliário e torna-se um hábito. Histórica e culturalmente acredito que somos um povo solidário, mas claro que o processo atroz de uma guerra deixa as suas consequências. O disparo de uma arma, para muitos de nós, ainda não é algo fora do comum. Há necessidade de mudar isto. E deve começar em nós, não podemos estar à espera que alguém faça algo. Perdeu-se alguma confiança ao próximo, há muita descrença. E de tanto não confiarmos nos outros acabamos por não acreditar sequer em nós próprios. A nossa missão no Movimento Lev’Arte é fazer acontecer, realizar projectos que visem resgatar a solidariedade e isso deve ser feito ao nível nacional. O país está a caminhar a uma velocidade fora do normal. Nos anos 80, falava-se a respeito da Europa, do Ocidente que os vizinhos não se conheciam, as famílias não se viam. Hoje estamos numa fase mais acelerada do que isso, andamos numa corrida frenética pelo “eu” imediato. É preciso destruir essa tendência. Temos de praticar pequenas e médias acções para poder sustentar uma Angola mais solidária, como todos dizem querer.


O Lev’Arte é um movimento feito por jovens para todos. Quais as principais preocupações dos jovens angolanos?

Penso que residem na formação e logo a seguir no conseguir um emprego. O problema da habitação está também muito presente e a questão da saúde.


Onde fica a solidariedade, a preocupação com o próximo no meio de todas as outras preocupações?

Onde há cultura e arte surge a solidariedade. Agora, sem dúvida que muitas pessoas escolhem o caminho mais fácil. Mas há várias formas de ser solidário, e é importante procurar esse caminho porque “humaniza-nos” , torna-nos pessoas melhores.


Quando entra a poesia na tua vida?

Foi muito recente. Lembro-me apenas de quando era pequeno fazer poemas na escola para o Dia do Pai Lia, isso sim muito sobre história. Estive a estudar fora, no Reino Unido, e a poesia só surgiu quando voltei a Angola, em 2004, e comecei a frequentar eventos onde se declamava poemas. Nessa altura descubro que não sabia nada de poesia.

Para mim, poesia tinha de rimar. Era muito influenciado pela vaga ideia que tinha do que eram os sonetos lidos na infância. Apaixonei-me pela alma e história da poesia de Florbela Espanca e pela multipersonalidade da poesia de Fernando Pessoa. Li poemas de escritores brasileiros como Assis e Carlos Drummond de Andrade. Tentei perceber a diferença da palavra na mão de um poeta e na mão de alguém comum.


E o que descobriste?

Descobri que a poesia está em tudo. Quando se lê um poeta aprendemos muito sobre a história de um país e, em alguns autores, do mundo também.


Depois surgiu o livro. Aos 30 anos publicas o Controverso…

Em 2004, assisti a vários eventos do projecto Artes ao Vivo e vi que havia muitos jovens com talento. Achei que poderia passar para outra etapa e fazer uma colectânea de poemas, convidando alguns jovens a participar. Acredito que muitas das coisas tem de ser feitas por exemplo, então decidi eu avançar com o livro Controverso, para dar mais coragem aos outros. Este livro foi um projecto estruturado desde a sua concepção. Sendo da área das ciências exactas e com o sistema de educação que tive, defini logo metas. Iria escrever 90 poemas, um por dia. No final dos 90 dias teria o meu livro. Acabou por não acontecer nada disto. Foram publicados 131 poemas, 120 da minha autoria e 11 de poetas convidados. Havia também várias pessoas a trabalhar neste sentido: a capa foi feita por uns, o prefácio por outros, alguns dos textos são da autoria dos tais autores que convidei.


O livro tem a particularidade de ter sido vendido antes da sua própria edição. Que ideia foi esta?

Decidimos começar a vender o livro, enquanto ainda estava a ser feito, às pessoas que acreditavam nesta nova vaga de talento que estava a surgir. Era necessário que as pessoas à nossa volta, os amigos e familiares dos autores acreditassem. Por isso mesmo, o livro foi patrocinado pelos seus próprios leitores. Em Janeiro de 2007, fizemos o lançamento e agradecemos às pessoas que acreditaram e apostaram neste livro. Foi um desafio, uma resposta à tendência de não confiar no próximo.


Na faculdade estudaste Engenharia Electrónica e Gestão. Porquê?

Tinha boas notas a Física e Matemática. E fui encaminhando tudo nesse sentido. Saí de Angola, fui para o Reino Unido e comecei a perceber a beleza da electrónica, e a ver que me podia ajudar na realização de alguns sonhos. Nesta altura ainda não escrevia.


Como se vive a aparente contradição entre ser poeta e engenheiro?

É controverso. Tal como antes dizia-se que o ballet não era para homens. Não existem ciências exactas sem coração. Tal como não existe coração sem mente.


Um dos objectivos que a Lev’Arte traça é levar a poesia para as zonas rurais. Como está a decorrer?

Temos passado timidamente por algumas províncias como Malange. Estamos a fortalecer o pólo de Viana para avançarmos para Cacuaco. Antes de expandir precisamos de consolidar em Luanda, que está mais ao nosso alcance, para depois conseguirmos projectar para as restantes províncias mais distantes. Batalhamos também pela consolidação deste projecto que se transformou num movimento. Como dizemos sempre, onde há ar há espaço para a arte.


Quais são os principais obstáculos que impedem que a poesia seja mais projectada?

Espaços com condições para a realização de um evento de poesia ao vivo. As livrarias também. Isto tudo é um ciclo que é sustentando pela leitura. Para melhor escrever e falar é preciso ler. É preciso outra dinâmica na gestão das livrarias.Por exemplo, porque razão não se fazem lançamentos de livros nas livrarias? A cultura de compra de livros é um obstáculo. Há livros de 500 a 1000 kwanzas que não são comprados, mas grades de cerveja e saldo de telemóvel são vendidos aos milhares todos os dias. Também era preciso haver uma melhor política de importação de livros, que faria baixar um pouco o preço. Os livros deviam ser subvencionados. Estamos a trilhar um caminho para chegar a excelência enquanto país e devíamos alimentar isso facilitando o acesso ao conhecimento.


Como pode a Lev’Arte ajudar um jovem escritor ou poeta?

Em primeiro lugar, estamos a crescer e a trazer cada vez mais pessoas às nossas iniciativas. Em 2006, cerca de 2000 pessoas assistiram aos nossos eventos; este ano de 2009 já vamos em 10.000 e esperamos chegar às 18.000 no final do ano. Temos um laboratório vivo nos nossos encontros. O jovem tira um poema da gaveta e partilha com o público, com as cerca de 150 pessoas que vão aos nossos eventos. Pode daí retirar um feedback imediato daquilo que é o seu trabalho, qual a recepção que tem no público. Incentivamos a partilha de experiências. Damos apoio a pessoas que trazem textos e querem transformá-los em livros, dando a nossa apreciação. Apoiamos também na fase de lançamento dos livros. Fazemos com que o sonho de um jovem escritor se torne realidade. Nós fazemos acontecer.

Joana Simões Piedade
30 de Julho de 2009
Fonte: www.opais.co.ao

Mátria

Nguimba Ngola lançou o seu primeiro livro de poesia na União de Escritores

Mátria é um livro que nos leva para o imaginário poético de um país visto por uma das novas promessas da literatura angolana. Nguimba Ngola já tinha diversos poemas publicados, no extinto semanário A Palavra, no livro Contorverso de Kardo Bestilho, suplemento Vida Cultural do Jornal de Angola, entre outros.

Na cerimónia de lançamento estiveram diversas personalidades ligadas ao mundo das letras, tendo o escritor Mário Rui recitado um poema do autor.

Natural do Bié, Nguimba Ngola é o pseudónimo do cidadão Isalino Nguimba da Cruz Augusto, um jovem que começa agora a caminhar pelo caminho das palavras. O livro foi editado pela Arteviva, Edições e Eventos Culturais, tendo sido apresentado no centro de Luanda, no espaço da União de Escritores Angolanos.

Cristina Barata
Fonte: www.opais.co.ao

Poesia em grande estilo

O movimento Levarte organizou o “Grande Show da Poesia”, uma forma de incentivar à leitura e ao convívio com a arte

O movimento Levarte não conhece paragens nem abrandamento na sua missão, e continua a trilhar o seu caminho no sentido de levar a arte nas suas diversas formas até ao público.

Nos eventos que o grupo tem organizado nos últimos tempos, com assinalável regularidade, destaque para o “Grande Show de Poesia” que decorreu no passado dia 10 de Outubro numa sala do Hotel Trópico, em Luanda.


A noite era de gala e os presentes vestiram-se a preceito para a grande noite de festa. Para além da poesia, houve tempo para a música, dança e teatro, num convívio que aproximou pela arte as várias dezenas de participantes do encontro.


Vários poetas de todas as idades, o trovador Zé Kafala e o Colectivo de Arte Tata Yetu foram alguns dos principais atractivos do evento.

Todos aqueles que se deslocaram até ao Hotel Trópico na compra do bilhete de entrada receberam de oferta um livro da autoria de um escritor angolano. Entre os livros para oferta constavam “O Neo-realismo na Poética” de Agostinho Neto, de Júlia Talaia, prémio Sonangol revelação 2008, “Uma Maria João e uns Knunca”, de Luís Rosa Lopes, “Matria”, de Nguimba. Ngola e “Controverso”, de Kardo Bestilo.


Esta oferta foi uma forma de “incentivar as pessoas e dar-lhes a oportunidade de praticar o exercício da leitura e enriquecer a sua cultura”, referiu a organização.

Joana Simões Piedade
29 de Outubro de 2009
Fonte: www.opais.co.ao